Buenos Aires: o que vi, vivi e aprendi
- andrechrodrigues
- 15 de jul.
- 3 min de leitura
Passei alguns dias em Buenos Aires e a cidade me marcou de um jeito diferente.
Não foi uma viagem comum.
Eu fui com o olhar de turista, mas também com o de alguém que gosta de entender como os países funcionam, e, principalmente, por que às vezes não funcionam.
Buenos Aires não é um destino “fofinho”. É uma cidade viva, com problemas escancarados, gente nas ruas protestando, prédios bonitos caindo aos pedaços, bairros elegantes e outros completamente largados. E isso tudo junto, ao mesmo tempo.

Começo da viagem
Logo nos primeiros dias, caminhei por San Telmo, Recoleta e Palermo.
Cada bairro tem um clima completamente diferente. San Telmo é mais antigo, com paredes descascadas e uma vibe meio decadente. Recoleta é chique e lembra Paris em alguns pontos. Palermo é mais moderninho, cheio de cafés, bares, gente jovem e lojas com estética minimalista.
Mas o que mais me chamou atenção não foi a estética, e sim o contraste. Você anda duas quadras e parece que mudou de cidade. Do nada você sai de um café hipster com croissant e Wi-Fi pra uma rua com lixo acumulado e gente dormindo na calçada.
É tudo misturado.

A história pesa
Uma coisa que não dá pra ignorar é como a história recente da Argentina tá presente no dia a dia. Não é tipo o Brasil, que finge que esqueceu. Lá, o passado tá exposto.
No meio da Plaza de Mayo vi as marcas no chão dos lenços das Mães da Praça, aquelas que perderam filhos durante a ditadura. Vi placas na calçada com nome, idade e data de desaparecimento de pessoas. Vi grafites com mensagens contra o FMI e contra presidentes que nem estão mais no poder.
É como se a cidade fizesse questão de lembrar o tempo todo do que aconteceu.
Não pra ficar presa no passado, mas pra não repetir.
Isso mexeu comigo.
A vida cultural é forte
A Argentina tem uma vida cultural absurda. E não falo de museu ou atração pra gringo. Falo de livro, teatro, cinema, debate. Tem livraria por todo lado. Tem peça de teatro acontecendo em porão, bar, garagem. Tem conversa de política rolando em todas as mesas de café.
Fui numa dessas milongas que não têm cara de show pra turista. Era um salão pequeno, com música ao vivo e casais dançando tango como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. E é mesmo.
Não era performance. Era só um monte de gente dançando o que sente. Fiquei ali só observando. Saí com a sensação de que o tango é uma linguagem que não precisa de tradução.

Economia e política: o caos organizado
Não tem como estar na Argentina e não falar da economia. É impossível não notar. Tem três cotações diferentes de dólar. Você paga uma coisa no cartão e outra se trocar em dinheiro na rua. Todo mundo fala de inflação, de crise, de câmbio. Todo mundo já entende de economia no modo sobrevivência.
Conversei com taxista, atendente de padaria, dono de hostel. Todo mundo tem opinião forte sobre política e um histórico completo dos últimos 30 anos de governos.
É normal ouvir alguém falar de Massa, Cristina, Macri e Milei como se fossem personagens de novela, e todo mundo tem um “mas” pra cada um deles.
É um país que parece estar sempre à beira de algo. Às vezes à beira do colapso, às vezes à beira da virada. Nunca estável.
E acho que isso cria um tipo específico de argentino: cético, mas apaixonado. Cansado, mas ainda esperançoso. Reclama muito, mas não desiste.
Impressões finais
Buenos Aires não é um lugar pra quem quer conforto o tempo todo. Ela exige de você. Te faz pensar. Te mostra desigualdade na cara. Mas também te oferece cafés silenciosos pra escrever, livros bons por preços baixos, conversas inteligentes, música sincera, comida boa.
É uma cidade que tem identidade. Que não tenta parecer com outro lugar. Que não finge que tá tudo bem.
E isso, pra mim, já é muito.
Voltei com mais perguntas do que respostas, mas acho que esse é o sinal de uma boa viagem.
Buenos Aires me fez pensar mais sobre o Brasil, sobre a América Latina, sobre o que a gente repete sem perceber, sobre como sobrevivemos às crises, sobre o que a gente valoriza mesmo quando tudo parece desabar.
Não sei quando volto, mas sei que não vai ser como turista.
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